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Antiga Reitoria ao lado do CRUSP

O reitor eleito da Universidade de São Paulo (USP), João Grandino Rodas, resolveu voltar a ocupar o prédio onde funcionou a reitoria da instituição até a ditadura militar. Em 1968, o local foi desocupado e a administração, transferida para edifícios construídos para abrigar residências estudantis. Naquele ano, o Crusp foi desocupado com a intenção de que os estudantes não mais se reunissem. “Tem uma importância de resgate histórico”, diz Rodas. Desde a semana passada, o reitor já ocupa uma sala no prédio chamado de antiga reitoria, o mais alto da cidade universitária.

O edifício de oito andares fica em frente à Praça do Relógio e hoje abriga departamentos de comunicações. Rodas deveria ter tomado posse nesta quinta-feira (26), pois o mandato de Suely Vilela terminou 4ª feira (25). Mas ele preferiu criar uma equipe de transição, que terá pró-reitores da antiga gestão e integrantes de seu grupo de apoio. A posse será apenas no dia 25 de janeiro. “Se assumisse hoje, assumiria o desconhecido”, diz ele. “É difícil assumir a 30 dias do fim do ano fiscal. A administração atual precisa encerrar o ano, prestar contas.” Nesse período, Rodas chefiará a equipe de transição e o vice-reitor de Suely, Franco Lajolo, será o reitor em exercício.

Jornal Cruzeiro do Sul

A USP abriu uma sindicância interna para apurar uma acusação de plágio contra a reitora Suely Vilela e mais dez pessoas. Na prática, a universidade vai investigar sua própria reitora.

O grupo formado por bioquímicos e farmacêuticos publicou um trabalho em 2008 com três figuras idênticas a um outro estudo, que saiu em 2003. A pesquisa mais antiga está assinada por um grupo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), autor da denúncia.

O estudo assinado pela microbiologista Angela Hampshire Soares e outros sete colaboradores é sobre a eventual aplicação de uma substância extraída da planta sacaca (típica da Amazônia) para o controle da leishmaniose –as imagens que geraram acusação de plágio retratam ação da substância.

Um dos objetivos da pesquisa da USP é investigar se uma substância isolada da jararaca é útil contra o vírus da dengue.

A reitora Suely, que é bioquímica, é uma das coautoras do trabalho. O principal autor da pesquisa é Andreimar Soares, professor da USP de Ribeirão Preto. O grupo nega que houve má-fé.

A cópia não se resume às três imagens idênticas de microscopia eletrônica que aparecem nas duas pesquisas.

Dois trechos do texto do artigo de 2008, publicado pela revista “Biochemical Pharmacology”, são semelhantes a parágrafos que constam do artigo original, editado na revista americana “Antimicrobial Agents and Chemotherapy”.

No artigo científico do grupo da USP não existe nenhuma referência ao trabalho anterior, de 2003. As chamadas referências bibliográficas formam um item obrigatório, e elementar, de todo texto de pesquisa.

“Estamos todos chateados e perplexos [com o uso das imagens]”, diz Rodrigo Stábeli, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz em Porto Velho, Rondônia. Ele é um dos 11 autores do trabalho suspeito de plágio. Especialista em estudos de proteínas, Stábeli não participou diretamente das pesquisas realizadas em Ribeirão Preto.

O cientista é a favor da sindicância, que deverá mostrar, segundo ele, que o suposto plágio é fruto de um equívoco.

O artigo publicado em 2008, assinado pelas 11 pessoas e, portanto, sob responsabilidade de todos, surgiu a partir da tese de doutorado da, na época, aluna Carolina Sant’Ana.

Após ter obtido o título de doutora, a pesquisadora, hoje, não está mais na universidade. Segundo o grupo acusado de plágio, uma confusão da aluna, que teria usado as imagens em seminário interno na faculdade, é o que poderia explicar as cópias. Ela não foi localizada.

A USP possui um portal eletrônico exclusivo para as teses defendidas na universidade. O trabalho de Sant’Ana, depositado em 2008, não estava disponível para consulta ontem.

Na história recente da USP, não é a primeira vez que pesquisadores são acusados de plágio. Em 2008, Alejandro de Toledo, diretor do Instituto de Física da USP, e Nelson Carlin Filho, vice-diretor da Fuvest, foram investigados. O caso terminou com uma moção de censura ética contra os cientistas.

Outro lado

A reitora Suely Vilela afirma que o eventual plágio será devidamente apurado. “Sobre as acusações referidas, de uso indevido de obra alheia anterior, já foi instaurada a competente sindicância administrativa para apuração dos fatos”, disse a reitora por meio de nota.

Apesar de 11 cientistas terem assinado o trabalho, como é comum na comunidade científica, cada um fez a sua parte. No caso das imagens que foram copiadas, Suely diz não ter nenhuma responsabilidade.

“O trabalho mencionado é resultado da tese de doutorado da aluna Carolina Dalaqua Sant’Ana, que foi orientada pelo professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto Andreimar Martins Soares”, afirma a nota.

Segundo a reitora, a participação dela no estudo ocorreu em outra área. “Minha colaboração com o docente é na área de isolamento e purificação de toxinas animais, matéria distinta em relação às passagens e imagens questionadas.”

A Folha não conseguiu localizar a aluna. O professor Soares está na Costa Rica a trabalho e também não foi localizado. Segundo Rodrigo Stabeli, um dos coautores do trabalho, o pesquisador da USP de Ribeirão Preto estará de volta ao Brasil em dez dias aproximadamente para fazer a defesa do grupo na sindicância interna movida pela universidade.

Em casos de supostos plágios, o caminho mais usado para informar à comunidade científica o que ocorreu de fato é fazer uma espécie de autodenúncia. Isso costuma ser publicado nas revistas que veicularam os trabalhos.

Stabeli afirmou que essa retratação, por escrito, já foi enviada para as duas publicações em questão. “E mandamos também isso para a professora Angela [Soares, da UFRJ]”, a principal autora do trabalho onde estavam as três imagens.

O grupo da UFRJ, autor da denúncia de plágio que gerou o processo na USP, não falou sobre o caso.

EDUARDO GERAQUE da Folha de S.Paulo

Encerrado o segundo turno do processo eleitoral de reitor da USP, e publicada no Diário Oficial, menos de 48 horas depois, a opção pessoal do governador José Serra pelo segundo nome da lista tríplice, confirma-se o caráter elitista e profundamente antidemocrático desse processo, expressão máxima da estrutura oligárquica de poder desta universidade. Os três escrutínios revelaram a incapacidade dos candidatos de alcançar maioria absoluta (164 votos), o que demonstra uma feroz luta entre os grupos engajados na disputa: desta vez, nem mesmo os tradicionais jogos de composição entre candidaturas tiveram como prosperar no diminuto colégio eleitoral.

Entre os 325 eleitores do segundo turno, os professores titulares são 145 (44,61%), os professores associados 89 (27,38%) e os professores doutores 40 (12,30%), além de um professor assistente e um professor auxiliar de ensino (0,3% cada um). Assim, a primeira distorção é que o mais numeroso segmento docente, o dos doutores, está subrepresentado; enquanto o menos numeroso, o dos titulares, está super-representado.

A segunda distorção é que o conjunto dos docentes habilitados a votar soma 84,89% dos eleitores, ferindo acintosamente, portanto, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE), que prevê gestão democrática com participação de 70% dos docentes no colégio eleitoral para escolha do reitor.

Os dados são da Secretaria Geral da Reitoria: votam no “coleginho” da USP três funcionários (0,9%), 19 representantes discentes da graduação (5,8%) e 21 da pós-graduação (6,46%).

Votam, ainda, um representante dos antigos alunos, um da classe trabalhadora, três de federações empresariais (agricultura, comércio e indústria) e um da Fapesp. São representações que ganharam o direito de participar da votação por pertencerem ao Conselho Universitário. Contudo, cabe lembrar que a eleição de representante dos antigos alunos, nos moldes vigentes, tem sido um meio de manter no Conselho Universitário antigos membros da burocracia. Por outro lado, é o caso de indagar por que razão há três representantes dos empresários e apenas um da classe trabalhadora.

Conchavos

Os dois primeiros colocados receberam votação uniforme nos três escrutínios, com inexpressiva variação para cima ou para baixo: 151/162/ 161 votos no caso de Glaucius Oliva, 105/ 106/104 votos no caso de João Grandino Rodas. Crescimento expressivo só apresentaram os pró-reitores Armando Corbani, que saiu de 68 votos para chegar a 101, e Ruy Altafim, que saltou de 35 votos para 78, resultado que pode ser atribuído ao empenho da reitora Suely Vilela no colégio eleitoral para solapar a candidatura de Rodas, que se declarou “oposição”. A estratégia permitiu a Corbani praticamente “encostar” em Rodas no terceiro escrutínio.

O candidato Francisco Miraglia, que venceu a Eleição Democrática para Reitor, realizada entre os docentes, com expressiva vantagem (41% dos votos válidos), obteve pequena votação no segundo turno, apesar de sua quarta colocação no primeiro turno. O descarte das congregações no colégio eleitoral do segundo turno (contribuição sui generis da USP aos processos eleitorais universitários) elimina a presença de eleitores menos atrelados ao círculo do poder. O que vale, no modelo atual, são as promessas de cargos, a pesada troca de favores e os compromissos entre os diferentes grupos encastelados na burocracia universitária.

O processo se encerrou no terceiro turno, de um só eleitor, no qual Serra nomeou reitor João Grandino Rodas, segundo colocado na lista tríplice — fazendo algo que não se via desde os tempos de Maluf governador: deixar de homologar o primeiro nome.

A Eleição Democrática para Reitor serviu como formidável contraponto ao processo eleitoral viciado que tende a perpetuar a oligarquia no poder na USP, ao permitir o aprofundamento e a politização do debate entre as diversas candidaturas e colocar em primeiro plano a luta pela democratização da universidade. A Adusp continuará lutando pela realização de uma Estatuinte paritária, democrática e soberana, dotada portanto de legitimidade para reformar o Estatuto atual. E seguirá defendendo eleições diretas para reitor e diretores de unidade, sem “terceiro turno”, ou seja, sem listas tríplices.

Informativo ADUSP – nº 297

Na próxima semana, os estudantes da USP poderão escolher que caminho o movimento estudantil de sua universidade deve tomar: se ele deve continuar distante da maioria dos estudantes, discutindo assuntos sem nexo com nosso cotidiano, ou se ele deve repensar sua atuação nos últimos tempos e voltar-se a construir um movimento legítimo, próximo de todos os estudantes da universidade, priorizando os assuntos da USP e lutando por uma universidade democrática e por um movimento estudantil também democrático.

Não são mais somente os alunos que clamam por mais democracia na USP – os funcionários, os professores e os próprios candidatos a reitor já manifestaram insatisfação com o modelo de gestão autoritário que temos atualmente – mais autoritário do que o que havia em 1968, quando a representação discente nos colegiados correspondia a 1/5, ou 20%. Com o AI-5 essa representação foi por água abaixo, mas na redemocratização do país, a educação não acompanhou o ritmo: em 1996, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), foi colocado aos estudantes a porcentagem de 15% de participação – menos, portanto, do que na própria época da ditadura militar. Porém, a USP tem a audácia de não respeitar nem a LDB, que já é bem antidemocrática com os seus 70% para docentes, 15% para funcionários e 15% para estudantes. A falta de democracia não paira no ar, ela interfere diretamente na sua vida.

A impossibilidade de reestruturar o currículo de seu curso, de afastar um professor que caiu de pára-quedas em seu departamento, de garantir que conquistas de permanência estudantil sejam colocadas em prática, etc, também são consequências da falta de democracia existente em toda a USP. Vamos juntos mudar essa história!

Nós, da campanha “Democracia na USP já!”, apresentamos a vocês nossa chapa para o DCE 2010: Para Transformar o Tédio em Melodia.

Acesse nosso blog: http://transformartedioemmelodia.wordpress.com/

SÃO PAULO – A partir do próximo dia 26 de novembro, a Universidade de São Paulo (USP) terá um novo reitor. João Grandino Rodas, de 64 anos, foi escolhido pelo governador José Serra para administrar, pelos próximos quatro anos, 40 unidades nos sete campi distribuídos pela capital e interior do Estado, com um orçamento anual de R$ 2,8 bilhões. 

Nara Alves

Até o dia da posse, o professor Grandino permanece como diretor da Faculdade de Direito Largo São Francisco, onde concedeu entrevista ao iG na noite desta sexta-feira.
Paulistano do bairro de Belém, na zona leste da capital, Grandino se diz proveniente da “classe média baixa”. Estudou em colégio particular, mas formou-se em Educação e Direito pela USP, além de Música e Letras em universidades particulares, como bolsista.
Agora, mais de 40 anos depois de frequentar os bancos da USP como aluno, ele compara as duas realidades. “Visualmente, temos hoje uma porcentagem maior da classe média baixa na universidade pública do que há 45 anos”. Para ele, por dois motivos. “Primeiro, porque a classe média baixa se esforça mais para entrar. Segundo, por causa do aumento das vagas em escolas privadas”.
Para Grandino, a questão do ensino superior público e gratuito “é um tabu no Brasil”. O novo reitor defende que a universidade pública não precisa, obrigatoriamente, ser de graça. “Não existe uma co-relação necessária entre o público e o gratuito”, diz.
O professor admite, no entanto, que não há espaço para debate sobre o assunto no País. “No momento não existe para o governo, qualquer governo, uma possibilidade de discutir isso. Eu espero que no futuro isso possa deixar de ser um tabu”.

Público e privado
Na USP, algumas faculdades já utilizam parcerias com o setor privado para bancar o aprimoramento de suas instalações. “Não dá para gastar R$ 900 mil em uma sala de aula inteligente usando dinheiro do orçamento”, afirma. Durante sua gestão, além de procurar financiamento externo, como do BNDES, Grandino pretende dar mais autonomia para que as faculdades decidam sobre o uso de parcerias público-privadas como uma maneira de amenizar o déficit de investimento no ensino superior por parte do poder público.
Enquanto este futuro não chega, Grandino reflete sobre a injustiça do atual modelo, em que estudantes de famílias com alto poder aquisitivo têm mais chances de ocupar vagas nas universidades gratuitas. “Se fôssemos olhar diretamente, talvez não seja justo. Mas não existe ensino gratuito. Tudo é pago pelo imposto. Nesse aspecto, teria, sim, justiça. Mas como no Brasil a maioria não consegue entrar na universidade pública por causa do ensino básico e fundamental, então é injusto”.
O novo reitor considera “extremamente impossível” o poder público dar universidade pública e gratuita para todos os que vão para a universidade privada. Como consequência, as universidades privadas “de qualidade de ensino duvidosa” entraram no vácuo deixado pelo poder público.
“Foi muito importante a passagem daquele momento em que só as elites iam às faculdades para o momento atual. A estatística melhorou, mas a escola básica e secundária piorou”. Grandino ressalta, porém, que algumas universidades particulares merecem seu reconhecimento. “Há as confessionais, católicas ou protestantes, e as fundacionais, como a Fundação Getúlio Vargas, que têm uma posição de melhor qualificação”.

Sistemas de avaliação
Outro tabu apontado por João Grandino Rodas é o do vestibular. O professor defende que a prova “é um trauma que precisa ser evitado na medida do possível”, mas ressalva que acabar com o vestibular é utopia. “Estamos muito longe disso, face aos números no Brasil”, lamenta. Além disso, ele lembra que não faz parte da cultura do brasileiro passar por uma avaliação contínua, progressiva.
Nem mesmo a unificação dos vestibulares das universidades públicas paulistas é vista pelo próximo reitor da USP como uma possibilidade mais próxima da concretização. “Há o tabu da autonomia universitária. A questão é acostumarmos a fazer isso em parceria. Eu, pessoalmente, acho que o vestibular unificado precisa ser discutido. Não tenho nada contra, mas é algo complicado”. Sobre o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, Grandino é categórico: “o Enem como está hoje não é possível de ser usado integralmente pela USP”.
Grandino defende que a USP precisa criar seus próprios sistemas de avaliação, “até mesmo para melhorar os sistemas nacionais”. Ele não descarta ou questiona a aplicação de exames como o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, o Enade, e defende a participação da USP em “todas as avaliações nacionais para poder ser comparada”.
Para melhorar a avaliação da instituição nos rankings nacionais e até mesmo internacionais, José Grandino Rodas aposta na melhoria da infra-estrutura da graduação. “A USP ampliou seu número de alunos sem o incremento de estrutura, como salas e computadores, e de pessoal, como funcionários e professores. O que precisa agora é ter a adequação disso para que não tenhamos salas superlotadas ou falta de computadores”, analisa.

 

”Cota racial é um dilema que deve ser discutido”

Futuro reitor diz que pretende visitar sindicatos e movimento estudantil, mesmo antes de assumir o cargo, ‘para conversar’

Carolina Stanisci e Renata Cafardo

A primeira providência do novo reitor da Universidade de São Paulo, João Grandino Rodas será fazer visitas aos sindicatos dos professores e funcionários e à sede do movimento estudantil. “Vou lá para conversar, antes mesmo de assumir. Ninguém precisa convencer ninguém de nada. Mas havendo mais simplicidade da parte da direção, mais transparência, as coisas podem melhorar”, disse. Nos últimos quatro anos, esses grupos foram responsáveis pelos grandes embates com a reitoria, o que levou a sucessivas crises, invasões de prédios e conflitos com a Polícia Militar dentro do câmpus.

O jurista, de 64 anos, foi o segundo mais votado nas eleições na USP nesta semana. Na noite de anteontem, ele recebeu pessoalmente do governador José Serra a notícia de que seria o novo reitor. Em entrevista ao Estado, Rodas diz que não sabe o porquê de ter sido o escolhido. Mas que pretende chamar o candidato preterido, o cientista Glaucius Oliva, para compor sua administração.

A posse do novo reitor deve ser no dia 26. Rodas participou de uma banca de livre-docência pela manhã e passou o resto do dia de ontem em sua sala da diretoria da Faculdade de Direito recebendo jornalistas, flores e cumprimentos. Contou ainda que pretende colocar em discussão um tema polêmico dentro da universidade: cotas. Hoje existe na USP apenas um programa de inclusão que dá bônus a alunos de escolas públicas no vestibular, sem distinção de raça ou cor. “É um dilema. Mas temos de discutir.”

Qual será sua primeira providência ao assumir?

Na verdade, é algo que vou fazer até antes de assumir. De maneira informal, sem carro oficial nem seguranças porque reitor não é chefe de Estado, vou fazer uma visita à Adusp (associação dos docentes), ao Sintusp (sindicato dos trabalhadores) e ao DCE (diretório central estudantil). Vou lá para conversar, ninguém precisa convencer ninguém de nada. Mas havendo mais simplicidade da parte da direção, mais transparência, as coisas podem melhorar. Vamos colocar todos os gastos na internet.

Por que acredita que foi o escolhido pelo governador sendo o segundo da lista tríplice?

Pela sistemática, a lista é tríplice. Muitas vezes se escolhe o primeiro, mas nem sempre isso acontece. Em outros lugares, como no Poder Judiciário, no Poder Executivo e até na USP o segundo lugar é escolhido. A própria reitora, que escolhe diretores das faculdades em listas tríplices, escolheu quem não era o primeiro colocado. Senão não seria lista, seria nome único. Não sei exatamente o porquê de ter sido escolhido. Tenho impressão que serviu ao convencimento do governador a carreira na USP de 39 anos, a carreira na magistratura e o fato de eu ter experiência em autarquias.

Grande parte dos professores votou em Glaucius Oliva, que tinha o apoio da reitora. Outro grupo faz forte oposição à gestão. Como pretende lidar com as insatisfações?

Todos os professores sabem, mais até do que os alunos e o povo, que é um meio absolutamente legítimo a escolha pela lista tríplice. As pessoas que estiveram em outros grupos políticos não escolhidos não serão alijadas da gestão.

O senhor vai chamar Oliva para participar de sua gestão?

Não tenha dúvida. Eu já liguei para ele hoje cedo. Deixei recado na caixa postal do celular. Ele só não participará se não quiser. Temos pouca gente na universidade. Se a cada eleição quem é escolhido não deixa portas abertas aos demais, ou afasta, isso é um absurdo.

A ONG Educafro comemorou a sua nomeação porque o senhor teria defendido cotas na USP.

Acho que a USP tem de discutir mais a inclusão social, enquanto isso o Inclusp (programa que dá bônus a alunos de escolas públicas no vestibular) vai sendo mantido. Realmente é necessário que a USP discuta cotas e outras coisas. Por essa razão, vamos levar essa problemática ao Conselho Universitário. Temos de discutir se vai haver cotas ou não. E se tiver cotas, para quem? Raciais? Não é simples. É preciso valorizar o mérito acadêmico, mas também dar mais oportunidade para quem não teve acesso à educação de qualidade. É um dilema. Mas temos de discutir.

O senhor é pessoalmente favorável às cotas para negros?

É uma questão ampla. Você pode abrir cotas para negros, pessoas de baixa renda. O Inclusp é um meio razoável. Mas não atinge talvez tudo que poderia acontecer. Sou favorável a aumento de bonificação para que pessoas com restrições nos estudos possam ter facilitada sua entrada na USP. Não é uma coisa que acaba com mérito acadêmico. Uma das saídas pode ser um Inclusp turbinado ou por meio de cotas, mas precisamos de discussão na comunidade.

O governo agora espera que o convênio com a Univesp, para oferecer graduação a distância, saia do papel.

A USP não pode se furtar das metodologias modernas, não pode deixar de participar desse momento ela mesma, mas também em convênios com outras instituições. A Univesp é algo importante, tem um efeito multiplicador para formar professores.

O governador pediu para que o senhor colabore mais com o governo?

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Serra escolhe Rodas como novo REItor

Não pediu isso. Vou fazer como fiz quando estava no Cade, que presidi durante o governo do PSDB e do PT, não há diferença. Mas a USP precisa colaborar mais com políticas públicas e o governo tem de entender o limite da USP também.

O senhor defende mudanças no processo eleitoral. Acabaria com a lista tríplice?

Não estou dando receita de bolo. Será ampla a discussão. Não vejo problema de se escolher, por exemplo, o diretor das unidades na própria unidade, sem chegar lista tríplice ao reitor. O reitor não é imperador, que faz o que quer.

A USP vai participar do Enade?

A USP não pode se furtar a participar de todas as avaliações nacionais. A USP não está acima das demais universidades nesse aspecto. Em participando, vamos ter índice de como USP está no contexto nacional. Não significa que não possa levantar questões negativas ou positivas dos diversos meios de avaliação. Talvez não possamos usar 100% das avaliações, como é o caso do Enem ser usado para vestibular. Pode ser que a gente não possa aceitar o Enem como nosso vestibular, pelas falhas que foram colocadas, que dizem que o Enem não mediria nuances num exame de tantas carreiras. Ainda assim, seria importante que não se descartasse, mas que se usasse certas características básicas.

Poderia ser usado como vestibular de alguns cursos?

Sim, poderia ser usado parcialmente. Mas isso é opinião do reitor. E o reitor, sozinho, pode incentivar que isso se faça. Acho que existe sentimento dentro da USP que as avaliações nacionais sejam usadas.

Que marca o senhor que deixar na USP?

A USP cresceu demais. O número de alunos da graduação dobrou nos últimos anos. E da pós também. Temos deficiências que precisam ser sanadas. Precisamos adequar professores e estrutura. Temos que aumentar o número do corpo docente, melhorar prédios e a informática. Hoje há defasagem por conta do grande número de alunos. A graduação e a pós têm de manter excelência acadêmica. Precisamos, também, desburocratizar a universidade, e internacionalizar. Ter duplos diplomas. O estudante pode fazer a graduação aqui e em Harvard. Queremos estar no clube de classe internacional de universidades.

Como diretor da Faculdade de Direito, o senhor fechou as portas da faculdade este ano para que não fosse invadida por manifestantes. Como lidará com protestos em sua gestão?

Nós temos protestos e protestos. Existe a necessidade legal, do diretor ou diretora, do reitor ou da reitora, de proteção das pessoas e das coisas. Isso é responsabilidade legal. Quando se fala naquele fechamento que foi feito aqui, havia uma passeata que estava chegando e cuja grandíssima maioria era externa à universidade. Não era um protesto pura e simplesmente. Preventivamente, resolvemos fazer isso. Não impedimos o protesto, ele foi feito aqui fora.

Sua equipe está montada?

Não. O pessoal do Compromisso USP (grupo formado por unidades como Medicina, Economia, Direito, Engenharia, que apoiou Rodas) não pediu nada. Temos várias pessoas de gestões passadas na equipe. Agora vamos discutir.

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Cadeira cativa do REItor!

A nomeação de Rodas, em decreto assinado pelo governador José Serra, foi publicada nessa sexta-feira (13) no Diário Oficial do Estado. O 25º reitor da USP, que assumirá a Administração Central da Universidade no dia 26 de novembro, é o atual diretor da Faculdade de Direito.

 

USP Online

Nesta sexta-feira, dia 13 de novembro, a comunidade universitária recebeu com temor essa notícia, que marcará a história da universidade com a estrutura anti-democrática do país. Queremos saber o que você pensa do Rodas. Ele era seu candidato? O que ele representa? Como você acha que será a sua gestão?

Após a apuração dos votos no terceiro escrutínio, foi formada a lista tríplice que será encaminhada ao governador José Serra, que escolherá o novo reitor da Universidade. Os nomes que compõem a lista tríplice, anunciada pela reitora Suely Vilela, são dos professores Glaucius Oliva, João Grandino Rodas e Armando Corbani Ferraz.

O resultado da votação foi o seguinte:

Glaucius Oliva – 161 votos
João Grandino Rodas – 104 votos
Armando Corbani Ferraz – 101 votos

Ruy Alberto Corrêa Altafim – 78 votos
Sonia Penin – 61 votos;
Francisco Miraglia – 20 votos
Wanderley Messias da Costa – 13 votos
Sylvio Sawaya – 6 votos
O número de votos brancos foi de 275 e de nulos, 3. Cada um dos 274 eleitores poderia votar em até três nomes, totalizando 822 votos.

Após ato em frente a reitoria, realizado na tarde de ontem, contra o processo anti-democrático de escolha de reitor(a), o segundo turno é adiado para hoje e para fora da USP!

Convidamos a todos para um ato, hoje, ao meio-dia, no Memorial da América Latina!!!

Não é de hoje que a comunidade universitária clama por democracia na USP. Há 75 anos estamos sob o julgo de uma pequena minoria que se apóia no mérito para ter a Universidade que lhes interessa, com uma estrutura que permite práticas de nepotismo e sustentação de interesses individuais. Atualmente, nossa estrutura de poder consegue ser mais autoritária do que a que havia na ditadura militar em 1968, quando a representação discente nos colegiados correspondia a 1/5, ou 20%.

Historicamente, as “eleições” para reitor, que ocorrem de quatro em quatro anos, foram marcadas por um contraponto às eleições indiretas feitas por menos de 1,7% da comunidade universitária. Esse contraponto é a consulta feita a estudantes, funcionários e professores, onde, na prática, a maioria faz o que uma minoria se recusa a fazer: abrir o voto a todos. Consideramos que não é o voto pelo voto, mas o que o ato de votar proporciona: parar, diagnosticar e interferir em nossa própria realidade. A realização do nosso voto democrático (realizado por milhares e não por apenas mil pessoas) colocaria a própria estrutura em xeque: pois ela optaria pelo voto meritocrático de mil, enquanto milhares se colocariam contra essa escolha.

Infelizmente, esse ano o movimento estudantil optou por se calar e não interferir em sua própria realidade, ao optar pelo boicote às eleições e pela não utilização de um instrumento usado historicamente para mobilizar aqueles que nem sequer conhecem as caras dos candidatos. Porém, nós do Movimento Democracia na USP Já! acreditamos que o movimento estudantil tem agido de maneira restrita não só nesse ano, mas durante algum tempo.
 
Em 2009, essa prática se repetiu mais uma vez pois o movimento, direcionado pelo DCE, agiu com descaso com as mais diversas realidades presentes em nossa universidade, em seus campi e unidades. As assembléias gerais ocorriam por puro assembleísmo, desconsiderando a mobilização das unidades e os informes dos campi do interior, e mesmo da EACH e de Pinheiros. O ano de 2009, apesar da mobilização construída aos trancos e barrancos, prometia muito mais do que o movimento estudantil da USP pode dar resposta.

Nossa reitora teve sua autoridade questionada após colocar a Polícia Militar dentro do campus para mediar um conflito essencialmente político e, em ano eleitoral (momento de brecha no poder), o que o movimento estudantil fez? O boicote puro e simples, reflexo da maneira simplista que muitos encaram o mundo e que não deu conta de informar e mobilizar aqueles que sentiram vergonha e indignação da USP sitiada em junho passado.

O “Fora Suely!” foi entoado pelos “Blusas Amarelas”, que começaram um movimento para que todos que fossem por Diretas para Reitor, pela saída de Suely e pela saída da PM do campus vestissem blusas amarelas, dando cara e corpo a um movimento que impulsionou o “Democracia na USP Já!” e por uma consulta democrática que desse voz aos estudantes sobre a escolha de nosso próximo reitor.

A falta de democracia na USP e no movimento estudantil não pairam no ar, eles interferem diretamente na nossa vida. A impossibilidade de reestruturar o currículo de nossos cursos, de afastar um professor que caiu de pára-quedas em nosso departamento, de garantir que conquistas de permanência estudantil sejam colocadas em prática, etc, também são consequências da falta de democracia existente em toda a USP e também em nosso movimento estudantil, que atualmente se encerra em si, e não consegue ser amplo o suficiente para dar conta de uma forte resposta a tudo que nos é colocado diariamente.
 
Vamos juntos mudar essa história!

dce_uspA negação da possibilidade do estudante se expressar sobre o futuro de sua Universidade (através da negação da consulta) é algo tão autoritário e antidemocrático como a estrutura de nossa Universidade. E é por saber disso que o movimento Democracia na USP Já! decide disputar o rumo do movimento estudantil da USP pela formação de uma chapa para as eleições do DCE 2010. Só um movimento estudantil democrático pode ser amplo o suficiente para termos força para democratizar a Universidade. Venha junto com a gente, construir a democracia dentro da USP!!!

Mande suas sugestões, críticas ou dúvidas para democracianauspja@gmail.com